Ontem, você, estranho, perguntou se o que nós aprendemos na escola foi sofrer de amor. Falou como quem não acreditasse que fosse fazer alguma diferença, sem nem querer resposta. Falou só por dizer, registrar sua pequena queixa pro mundo. Não foi para mim. Ao menos, eu imagino que não. Ainda assim, gastei muito tempo pensando na resposta para esta simples pergunta retórica.
Em matéria de amor, sofri muito pouco. Não me poupou queixas ou reclamações, pelo contrário, acho que me fez reclamar muito mais que muita gente. É que eu sempre tive esta tendência melodramática e pessimista que eu nunca consegui - às vezes, até não quis - frear. Ficava pensando porque nunca aparecia alguém para eu ficar pelos cantos e ia lá pros cantos sozinha. Montei um mundo perfeito na minha cabeça e segui com ele quase sem problemas de percurso. Fiquei um tanto anestesiada para a realidade. Não sei se meu problema começou aí ou se foi aí que piorou.
Deixei de sentir, estranho. Tudo que não fosse estratosférico, não era de verdade e este é um problema. Nada mais valia a pena, tudo era muito pálido, muito sem graça. A vida era uma constante fuga para dentro de minha cabeça, para os braços de uma coisa que eu nunca tive, mas sempre senti aqui. Foi quando eu comecei a me identificar com isto tudo, com este romantismo e depressão exacerbados que alguns parecem estar envoltos hoje em dia. Tão incomodados com a vida que ainda nem começaram a viver. Eu queria morrer, estranho, e tinha menos de quinze anos.
É esta coisa anti natural de hoje em dia que me irrita, me assusta e que eu registrei nas suas palavras que me apontaram culpa e similaridade. Não, não aprendemos a sofrer de amor na escola. Aprendemos com a tv, com os livros, com o mundo, conosco. Aprendemos a esperar por um mundo encantado que não existe e quando não o encontramos ficamos assim: perdidos, extraviados. A mercê de interesses sem vigor que só nos vão desapontar e desvirtuar ainda mais. Até termos alergia a sentimentos ou sermos totalmente dependentes deles.
Quando eu disse que me machuco, estranho, não foi porque queria reclamar de amor. Foi porque eu queria ter certeza de que sentia alguma coisa. Porque neste mundo artificial está cada vez mais difícil de ter certeza sobre qualquer coisa... Até mesmo sobre nós mesmos; Muito mais sobre nós mesmos.