sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Retórica

Ontem, você, estranho, perguntou se o que nós aprendemos na escola foi sofrer de amor. Falou como quem não acreditasse que fosse fazer alguma diferença, sem nem querer resposta. Falou só por dizer, registrar sua pequena queixa pro mundo. Não foi para mim. Ao menos, eu imagino que não. Ainda assim, gastei muito tempo pensando na resposta para esta simples pergunta retórica.
Em matéria de amor, sofri muito pouco. Não me poupou queixas ou reclamações, pelo contrário, acho que me fez reclamar muito mais que muita gente. É que eu sempre tive esta tendência melodramática e pessimista que eu nunca consegui - às vezes, até não quis - frear. Ficava pensando porque nunca aparecia alguém para eu ficar pelos cantos e ia lá pros cantos sozinha. Montei um mundo perfeito na minha cabeça e segui com ele quase sem problemas de percurso. Fiquei um tanto anestesiada para a realidade. Não sei se meu problema começou aí ou se foi aí que piorou.
Deixei de sentir, estranho. Tudo que não fosse estratosférico, não era de verdade e este é um problema. Nada mais valia a pena, tudo era muito pálido, muito sem graça. A vida era uma constante fuga para dentro de minha cabeça, para os braços de uma coisa que eu nunca tive, mas sempre senti aqui. Foi quando eu comecei a me identificar com isto tudo, com este romantismo e depressão exacerbados que alguns parecem estar envoltos hoje em dia. Tão incomodados com a vida que ainda nem começaram a viver. Eu queria morrer, estranho, e tinha menos de quinze anos.
É esta coisa anti natural de hoje em dia que me irrita, me assusta e que eu registrei nas suas palavras que me apontaram culpa e similaridade. Não, não aprendemos a sofrer de amor na escola. Aprendemos com a tv, com os livros, com o mundo, conosco. Aprendemos a esperar por um mundo encantado que não existe e quando não o encontramos ficamos assim: perdidos, extraviados. A mercê de interesses sem vigor que só nos vão desapontar e desvirtuar ainda mais. Até termos alergia a sentimentos ou sermos totalmente dependentes deles.
Quando eu disse que me machuco, estranho, não foi porque queria reclamar de amor. Foi porque eu queria ter certeza de que sentia alguma coisa. Porque neste mundo artificial está cada vez mais difícil de ter certeza sobre qualquer coisa... Até mesmo sobre nós mesmos; Muito mais sobre nós mesmos.

domingo, 16 de outubro de 2011

A luta

Ondas. Ondas frias de medo me atravessam agora. Eu me sinto preparada, sim. Talvez mais preparada do que na verdade estou. Ainda assim, bate o medo de não ser o suficiente. De agora falhar. De deixar todo mundo ver que eu não sou aquilo que eles pensam, desnudar minha cruel incompetência.
Eu não me sinto o bastante. Nunca me senti, mas agora é diferente. A única coisa que eu gostaria que ficasse, a minha única certeza sobre mim... Eu já não estou tão certa sobre isto. Não quero falhar, não quero passar por tudo isto de novo, mas lá no fundo algo grita que é exatamente o que vai acontecer.
Não posso me permitir falhar porque não aguento nada disto mais. A vida está legal agora, mas eu preciso seguir em frente. Não posso me permitir ser engolida novamente. E é exatamente o que vai acontecer se eu ficar. Eu sinto em meus ossos que é.
Eu preciso provar que eu sou melhor. Como se nem eu acredito nisto? Minha garganta se fecha, minhas mãos suam, meus olhos secam. O medo surdo. O medo mudo. O medo. É como se eu encarasse cada um deles nos olhos agora. E tudo que eu sinto é o medo dentro de mim.
Eu vou passar? Eu vou sobreviver? Eu vou ser os três porcento? Eu não sei. Eu não sei. Eu não sei. Eu não sei. Eu não sei. Eu não sei. Eu não sei. Eu não sei. Perguntas, perguntas, eu preciso de respostas.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Atrasado

Parece que é sempre para ela. Ela que fechou a porta e já se foi. Como se ficasse ensaiando no espelho, na cabeça, com o ar tudo que queria falar e não disse. Mas ela não volta para você poder dizer. Não volta, nem vai voltar. Cresce a frustração de um poderia, as lembranças de chances perdidas machucando e correndo em sangue fresco.
Mas se ela chegasse seria diferente? Se ela sorrisse de novo, se a gente tentasse outra vez. Só que não há esperança. Nestes tempos, não tem como mais ter. Observar dores, observador, com um blasé bobo para sua própria vida.