Está quieto. O seu coração, seus olhos,
seus braços, seu sorriso, sua dor. Tudo está em silêncio. E eu tenho medo de
rompê-lo para dizer que você se foi, porque todas as vezes que as palavras
deixam meus lábios o vazio fica mais concreto. A saudade aperta um pouco mais.
É tão mais fácil fingir que estamos como sempre a um fim de semana de
distância.
Te lembro nas pequenas coisas. Um brinco,
um costume, um voto, um doce de coco. Tenho falta das pequenas coisas. Um
abraço, um beijo, passar na sua casa antes de sair e ver se a senhora aprovava
o meu figurino, de imitar os cultos da igreja com meus primos quando era
criança só para a senhora ver. Tenho falta de conversar meus sonhos e
objetivos, de sentir a senhora ali sonhando comigo. Mais que tudo, eu queria a senhora do meu lado
para ver estes sonhos realizados.
Algum tempo se passou e eu ainda não sei
descrever a dor da falta. Ligar para casa e não ouvir mais sua voz. Chegar em
casa e não te ter ali. Ver algo que a senhora iria gostar e não poder mais te
dar. Toda vez é te perder de novo, te perder mais um pouquinho.
Agradeço pelas lembranças. Do seu sorriso,
da sua voz, do seu abraço. Agradeço por ter tido o privilégio de ser sua neta. Agradeço
por ter tido o privilégio de aprender com você. Aprender a ter garra e coragem
para correr atrás do que eu quero. Aprender
a ter fé. Aprender que a família, ainda que não perfeita, é a coisa mais
preciosa que a gente tem.
Em dias como hoje, vó, quando a saudade
bate forte, são dias em que eu preciso acreditar que daí do lado de Deus a
senhora consegue me ouvir dizer que te amo. Porque eu te amo muito, vó, e sinto a sua
falta mais do que eu consigo explicar ou transmitir. Acho que nunca vou saber lidar
com a despedida do físico, mas para sempre te levo comigo no meu coração e na
minha alma.
Eu te amo, vó. E, não importa a distância de mundo ou de plano, isso
nunca vai mudar.