sábado, 24 de agosto de 2013

Insegurança

Este frio. Este medo perene que corre por minhas veias e consome minha carne. 
Este medo. Este frio que me faz questionar: é este o caminho certo? Mas minha resposta é o silêncio dos paralelepípedos gelados e cinzas. É o eco de minha pergunta nas paredes indiferentes e sujas dos arranha-céus. O medo me lava, enxágua, torce e a afoga de novo.
Eu tenho que tentar. Eu tenho que tentar. Eu tenho que tentar. Parte de mim grita. 
E se der errado? E se der errado? E se der errado? Outra eu responde. 
Só se cresce ao se desafiar. Só se sangra quando se luta. Só se descobre ao enfrentar o desconhecido.
Eu só não sei se tenho coragem. A única certeza é o medo que me mantém dançando. O medo de ir e falhar, o medo de ficar e se arrepender. O medo de estar sozinha de novo.
Falar não faz nada disso ir embora. Agir também não. Sei que o medo é coisa que só o tempo e o resultado carregam, para dar lugar ao sabor de vitória ou falência. Por vezes, ambos.
Cerrar os dentes e seguir em frente, para um ou outro caminho, para os dois. Sentindo os tornozelos afundarem na lama gélida que é a vulnerabilidade de fazer uma escolha. Sentindo o peso se se prender a um mundo de se's.
E eu que achava que a aprovação era o fim de todas as dúvidas. Era fim, mas apenas de um capítulo.  

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Mudança

As mãos frias do medo já não apertam minha garganta. Não é como antes, a decisão me assombrando, me mantendo acordada a noite, me banhando em ondas frias. A ansiedade faz meu coração bater mais forte, a insegurança me mantem acordada e só. Eu digo que estou decidindo, mas sei que no fundo a decisão já foi tomada por mim. Com medos e incertezas, arrumo as malas e vou. 
Engraçado como no plano nas ideias tudo é tão mais sereno. Na minha cabeça, há um ano atrás, se algo como isso acontecesse seria simplesmente o tempo de empacotar as coisas e dizer adeus. Não é assim na prática. Não seria nem mesmo se fosse assim desde o início. Mudar dói. Mudar custa sacrifício. Mudar significa sair da sua zona de conforto. Mudar significa dar a cara tapa agora e tentar tudo de novo. 
Novo lugar, novos amigos. Antigos medos que se mostram novamente reais ao bater em minha porta. Acho que eu cresci e por isto preciso tentar. Acho que preciso tentar para crescer. Só sei que não acho que dá para viver a vida somente no seguro e conhecido. É mudando que se evolui.
Então ao ver a estrada aberta, limpo os olhos e sigo em frente. Eu finjo coragem, finjo até que realmente sinta. Tantos tentaram antes de mim e poucos morreram por isto. Rezo no fundo da mente que eu faça boas lembranças no caminho. 

sábado, 17 de agosto de 2013

Girls like you

Você errou, errou feio. Construiu o mundo sobre a base instável do seu egoísmo. Achou que fosse para sempre se safar com isso, quando as esmeraldas brilhassem para um outro alguém. Mas você está ficando sem opções e as pessoas já estão cansadas da canção enjoada de ser somente mais uma carinha bonita.
Você colheu corações e os espremeu como laranjas. Tomou o caldo e cuspiu; sorriu enquanto o fazia. Tratou pessoas como seus brinquedos. Só esqueceu que não é um jogo, só esqueceu que não é engraçado. 
Você segue dançando pelo mundo, pesando cada ação com base em dois pesos. Porque alguém ferrou, eu tenho o direito de ferrar também. De novo e de novo. Eu preciso preencher o meu vazio, ainda que seja esvaziando os outros.
Você sorri seco e amargo, balbuciando sobre o quanto é patético. Realmente, é patético. É patético o que você está fazendo a si. 

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

"- Não se preocupe, meu irmão. Não preciso que você diga à Sal que não sou um fracasso. - Ainda estávamos separados pela porta de tela. - Também não preciso que você diga isso a mim. Eu sei o que sou. Sei o que vejo. Talvez, um dia, eu lhe fale um pouco mais de mim, mas, por enquanto, acho que teremos que esperar para ver o que acontece. Não estou nem perto do que serei, e... - Senti uma coisa em mim. Uma coisa que sempre havia sentido. Fiz uma pausa e captei o olhar de Steve. Saltei para dentro dele através da porta e o prendi. - Você já ouviu um cachorro chorar, Steve? Sabe como é, uivar tão alto que quase chega a ser insuportável? - Ele fez que sim. - Acho que uivam assim porque estão com tanta fome que chega a doer, e é isso que sinto em mim, todos os dias da minha vida. Tenho uma fome enorme de ser alguma coisa, de ser alguém. Está me ouvindo? - Ele estava. - Não vou me rebaixar nunca. Não diante de você. Nem de ninguém. - Encerrei o assunto. - Eu tenho fome, Steve." 

(A garota que eu quero, Markus Zusak)