domingo, 22 de setembro de 2013


"Alex ficou encarando o console com olhos arregalados. Será que alguém iria topar fazer aquilo? Então lhe ocorreu que uma pessoa já tinha topado: ele próprio. Alex inseriu a si mesmo no gráfico, como Rebecca talvez o analisasse: Necessidade: 9; Alcance: 6; Corruptibilidade: 0. Como Bennie tinha dito, Alex era um purista. Havia se afastado de patrões mau-caráter (na indústria da música) da mesma forma que hoje se afastava corriqueiramente de mulheres atraídas pela visão de um homem cuidando da filha bebê durante o horário de expediente. Caramba, ele havia conhecido Rebecca depois de tentar perseguir um cara usando uma máscara de lobo que havia roubado da bolsa dela na véspera do Dia das Bruxas. Mas Alex tinha cedido a Bennie Salazar sem resistir. Por quê? Porque o seu apartamento logo iria ficar escuro e abafado? Porque passar o dia cuidando de Cara-Ann enquanto Rebecca trabalhava em tempo integral como professora e escritora o havia deixado inquieto? Porque ele nunca conseguia esquecer por completo que cada parcela de informação sobre si postada on-line (sua cor preferida, sua verdura preferida, sua posição sexual preferida) era armazenada em bancos de dados de multinacionais que juravam que nunca, nunca iriam usá-las - que, em outras palavras, ele lhes pertencia, e que havia se vendido sem pensar justamente no momento da vida em que se sentia mais subversivo? Ou seria a estranha simetria entre ter ouvido o nome de Bennie Salazar pela primeira vez da boca daquela estranha garota com a qual saíra certa noite, bem no início, e agora finalmente conhecer Bennie, uma década e meia depois, graças a um grupo de lazer para crianças?
Alex não sabia. Não precisava saber. O que precisava era encontrar mais cinquenta pessoas iguais a ele, que tivessem deixado de ser elas mesmas sem perceber."


(A Visita Cruel do Tempo, Jennifer Egan)

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