quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Agonia


A água gelada toca meu rosto de novo. Não sei bem o que planejo alcançar quando repito o gesto, mas ao levantar os olhos, encaro a mesma pessoa no espelho. Minha cadela tem este olhar meio perdido quando se vê no espelho da sala. Neste instante, eu me olho como Frida. Engraçado como a gente facilmente se esquece que somos meramente animais.
Lavo o rosto de novo. Vai ver depois da quarta vez eu ache algo diferente. Não; É apenas mais da mesma coisa. A mesma bagunça. Quem é você? O que quer? O que almeja? Visão política? Gosto musical? Tamanho de roupa? Lugar preferido no mundo? Filme favorito? Um poema que te descreva? Qual é o seu nome? De onde você vem? Para onde você vai? Perguntas, perguntas, perguntas. Tantas perguntas.
O frio da água. O macio da toalha. A dureza do chão sob meus pés. Sensações que me invadem sem que eu permita. O aperto no peito que é apreensão de não saber o amanhã. Não tenho idéia para onde vou, mas estou indo. Isto assusta. Não tenho idéia do que sinto, mas vou sentindo. Isto dói. A gente vai pra frente, nem que seja se arrastando, porque tem que acompanhar o mundo e é para frente que o mundo vai. E meu corpo amanhece ralado das feridas do encontro ao chão.
Eu não sei o que eu quero, mas sei o que o mundo quer de mim. Eu tenho que ir. Não sei se eu quero. Uma escola, um curso, um emprego. Um homem, um filho, um amor. O que eu quero? O que eu quero?
Lavo o rosto de novo. Como se a água que corre fosse me livrar das alienações de viver aqui. Fosse esclarecer minhas vontades, o que eu sinto. Se é que ainda me é dado o direito de sentir. Sentir sem que seja o que você quer que eu sinta. E você, quem é?
Viver, meu Deus, que diabos é isto?  

Nenhum comentário:

Postar um comentário